Do respeito

Dá-nos o dicionário, entre vários outros sinónimos para a palavra "respeito", opções como "apreço" e "consideração".
Efetivamente, a generalidade dos professores deste país tem múltiplas razões para se queixar da falta de respeito de que é vítima: venha ela da parte dos governantes, dos pais/encarregados de educação, dos alunos e até mesmo dos seus pares, não deixa de ser preocupante o nível a que chegou a falta de respeito por uma das classes profissionais que mais devia ser acarinhada.
Na profissão docente, o respeito passa pela valorização salarial e profissional, mas também pela garantia de condições de trabalho que não transformem o professor em escravo de papéis e mais papéis, de grelhas e mais grelhinhas, de projetos e mais projetinhos... Além disso, ainda que todos tenham consciência de que a escola já não é o que era há vinte anos, parece que ainda ninguém percebeu (nem mesmo alguns professores...) que professor não tem de ser médico, enfermeiro, psicólogo, assistente social e, por vezes, pai dos seus alunos. Se as valências desempenhadas por esses profissionais e outras valências são uma necessidade das escolas, então que sejam contratados esses profissionais para o desempenho das mesmas. Claro que isso custa dinheiro ao erário público e sai muito mais barato colocar o professor no papel de ser médico, enfermeiro, psicólogo, assistente social... E que garantias tem um professor que se presta a isso de não vir a ser contemplado com um processo disciplinar/judicial, por meter a foice em seara alheia, mesmo que movido por razões altruístas ou por um "espírito de missão"?
Onde está o respeito pelo professor, quando, desde os tempos ministeriais da D. Lurdinhas, os pais/encarregados de educação e os alunos se transformaram numa espécie de "clientes que têm sempre razão"? Não é igualmente desejável transformar o professor no "cliente que tem sempre razão", mas há que ter a coragem de analisar factos/situações de forma justa e imparcial, coisa que não assiste a muitos diretores, que tomam quase sempre o partido de quem se queixa do professor.
Onde está o respeito pelos professores, quando o ministério da educação esperou dezenas de anos para abrir vagas que permitiriam aos jovens professores em início de carreira ponderar constituir a sua família e a sua residência em lugares onde havia mais carência de professores?
Onde está o respeito pelo professor quando se passa para a opinião pública a ideia de que um professor só trabalha 22/25 horas por semana, tem três meses de férias e ganha milhares de euros (é super interessante apresentar apenas o salário dos professores no topo de carreira - e mesmo assim sem referir que se trata do salário ilíquido - como se todos os professores fossem abonados pelo escalão mais alto)? Por que será que não é dito que, além das horas letivas, existe um sem número de horas que ultrapassa frequentemente o total das 35 horas semanais (letivas e não letivas) em tarefas que roubam tempo à sua vida pessoa e familiar (sim, porque professor também tem família....)? Em que momento o ministério da educação revelou os milhares de euros que poupou em material que os professores tiveram que comprar com dinheiro seu para poder desempenhar as suas funções? Será que, por exemplo, os médicos compram máquinas de Raio-X para poderem diagnosticar os seus doentes? Os enfermeiros, por exemplo, compram agulhas e seringas para administrar medicação aos pacientes?
Onde está o respeito pelo professor quando se assume que o importante é não ter os alunos sem aulas (se calhar, o mais correto, seria dizer "ter os alunos num espaço fechado e alguém a olhar por eles"), mesmo que isso signifique ter pessoas sem qualificação profissional e, por vezes, mesmo sem habilitação própria à frente de uma turma, só para calar os protestos dos pais/encarregados de educação que não querem os meninos por aí à solta, à mercê de qualquer perigo?
Contudo, é de ter igualmente em conta que o respeito é algo que se conquista, que se faz por merecer e não algo que nos é automaticamente garantido. É um facto que, em todas as classes profissionais, há bons e maus profissionais, mas também não deixa de ser verdade que um mau profissional acaba por ter mais visibilidade quando se trata de deixar a sua classe mal vista. Daí que se torne cada vez mais pertinente ter a coragem de chamar à pedra quem tem de ser chamado e de valorizar/defender quem merece ser valorizado/defendido, sem protecionismo para quem precisa de ser chamado à atenção e distinguindo quem merece ser distinguido pelo seu profissionalismo e não pelo "lambe botismo".