[in]Competência

29-05-2022

É difícil encontrar uma instituição/empresa onde o gajo baldas não esteja presente.

Umas vezes por efetiva incompetência, outras vezes por esperteza, o gajo baldas age de modo a ficar sempre com as tarefas mais básicas (o mesmo é dizer com muito menos trabalho), apesar de a diminuição do trabalho não ter como consequência a diminuição do salário.

Na versão "incompetente", o gajo baldas é tão mau naquilo que faz que as suas tarefas acabam por ser atribuídas a outro que as faça minimamente bem, porque, para bem da empresa/instituição, alguém tem de as fazer (e esse alguém não é certamente o gajo baldas...), mas também não vai ganhar mais por fazer o seu trabalho, acrescido do trabalho do gajo baldas. Nesta versão, o gajo baldas vai sendo progressivamente "despromovido" nas responsabilidades inicialmente atribuídas, acabando por ficar num lugar onde faça menos mossa, mas, como isso não corresponde uma diminuição de salário nem conduz a despedimento com justa causa, o gajo baldas não se sente diminuído e até agradece.

Na versão "chico esperto", o gajo baldas pode revelar-se em duas vertentes. Apesar das suas capacidades, pode acontecer o gajo baldas falhar intencionalmente na realização das tarefas que lhe são atribuídas para que, consequentemente, sejam atribuídas a outro (vide versão "incompetente") ou, em vertente onde a premeditação e o calculismo são fundamentais, pode o gajo baldas insinuar-se subtilmente junto das chefias, de maneira a sair beneficiado na distribuição das tarefas. Nesta última vertente, é comum o gajo baldas puxar dos galões para mostrar que é o maior, que já fez centenas de formações, que já fez parte de imensos (e importantes!) grupos de trabalho, que é expert em todas as áreas e mais algumas, e mais umas quantas coisas a rechear o curriculum vitae com que costuma apresentar-se. Certo é que, quando instado a mostrar o que vale, tendo em conta o currículo apresentado, o gajo baldas acaba por não fazer nada, alegando que aquilo que lhe é pedido é coisa que não se faz de um dia para o outro, que são necessárias condições de que não dispõe, que contingências várias a que é alheio o impedem de realizar o que ser que seja, blá-blá-blá... Na prática, apesar de se apresentar com um currículo cujo volume se aproxima muito de "Os Lusíadas", o gajo baldas acaba por ter uma vida santa(vide versão "incompetente").

Claro que, em ambas as versões, o gajo baldas conta com a complacência das chefias (sim, chefias! Liderança é outra coisa...). Se, relativamente à versão "incompetente", a complacência pode ficar a dever-se à incapacidade de a chefia reconhecer que decidiu mal na admissão do gajo baldas, no caso da versão "chico esperto", a complacência surge justificada pela natural habilidade que o gajo baldas tem para adular e bajular as chefias (que adoram sentir-se o supra-sumo!).

E se, como atrás se diz, é difícil encontrar uma instituição/empresa onde o gajo baldas não esteja presente, é igualmente difícil que, nestas instituições/empresas, não exista também o conhecido "burro de carga".

O "burro de carga", por verdadeiro brio profissional ou por recear que a instituição/empresa "se afunde", acaba por ser aquele a quem a chefia recorre incessantemente para remediar os estragos causados pelo gajo baldas. Se, cansado de desempenhar as suas tarefas e as do gajo baldas, o "burro de carga" reclama do excesso de trabalho e chama a atenção para a vida folgada do gajo baldas, recebe da chefia justificações do tipo "pois, mas você já sabe que ele não faz nada que se aproveite e as coisas têm de ser feitas" ou "sabe que isto são tarefas de grande responsabilidade e só você tem competência para as realizar" ou "blá-blá-blá"...

As chefias (porque adoram ser aduladas e bajuladas...) acreditam piamente que o "burro de carga" é sensível a elogios à sua competência e a outros atributos e que, dessa forma, calarão o descontentamento. Embora agradado por esse reconhecimento das chefias, o "burro de carga" vai, progressivamente, apercebendo-se de que é só conversa para que nada de grave aconteça no reino da Dinamarca, além de ter de aprender a viver com "bocas" dos que o acusam de ser "pau mandado", de andar a "dar graxa" às chefias ("O macaco nunca vê o seu rabo"...) ou (pior ainda!) de andar "a fazer a folha" às chefias para lhes ficar com o lugar.

Como até a paciência dos "burros de carga" tem limite, o "burro de carga" começa a deixar de ser burro e percebe que tem duas opções: ou se transforma em gajo baldas (e espera que apareça outro "burro de carga" que impeça que o barco se afunde!) ou procura uma instituição/empresa onde encontre verdadeiros líderes que reconheçam a sua competência, premiando de forma justa o seu desempenho e não o sobrecarregando com o trabalho do gajo baldas (ah, claro que isto seria impossível de acontecer: numa instituição/empresa onde há líderes não há gajos baldas!).

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