O (des)Norte na Educação

Homem do Norte, local do país com a maior concentração de professores, Fernando Alexandre parece querer passar para o público a ideia de que tudo está mal na Educação e que, qual capitão de navio em águas turbulentas, é ele quem tira do bolso as mezinhas milagrosas e vai resolver problemas que subsistem, na área educativa, há dezenas e dezenas de anos. Mas, senhor ministro, diz-nos a experiência que não é a melhor estratégia de navegação a divisão e o mal-estar que está a criar entre os numerosíssimos elementos da sua tripulação, colocando uns contra os outros, sem esquecer de repetir, até à exaustão, que quase tudo o que está mal é da responsabilidade do seu antecessor.
Para nortear este descomunal navio da Educação e levá-lo a bom porto, o essencial passa por motivar a sua tripulação, valorizando-a e premiando o seu desempenho, lançando ao mar, se necessário for, aqueles que nada fazem para evitar que o navio se afunde. Mas, o que fez o senhor ministro, ao longo destes meses de comando, para impedir o naufrágio, além de sacudir a água do capote e de umas quantas medidas avulsas, cuja eficácia se afigura altamente duvidosa? Ah sim, cedeu na questão da recuperação do tempo de serviço (RTS), aquele famoso cavalo de batalha que muita dor de cabeça provocou ao seu antecessor, tantas foram as manifestações, à porta da Infante Santo, e tirou da cartola o já famoso plano "+ Aulas + Sucesso", de que já falámos em artigo anterior. Relativamente à RTS, não deixa de ser curiosa a alteração de posição do anterior partido do governo: enquanto governo, com maioria absoluta, nunca houve condições nem vontade para ceder mais do que os famosos 2 anos, 9 meses e 4 dias; mal passou a ser oposição, a RTS transformou-se imediatamente numa reivindicação justíssima dos professores. Pressionado pela oposição e talvez pensando que, com a devolução aos professores daquilo que lhes era legitimamente devido, os calaria a acalmaria as suas repetidas exigências de mais e melhores condições de trabalho, o atual governo lá cedeu. Terá sido suficiente para colocar o navio em bom rumo? Não, longe disso. A comprová-lo estão as frequentes notícias, na comunicação social, sobre questões relacionadas com o concurso de professores, com a mobilidade de professores por motivo de doença, com o número de alunos que, no início das aulas, terão falta de professores em várias disciplinas…
Senhor ministro, mais do que andar na comunicação social, numa espécie de "mea culpa" em que poucos acreditam (até porque não perde oportunidade de lançar farpas ao seu antecessor...), a falar do que está mal na Educação, arregace as mangas, dê ouvidos a quem percebe da navegação (mesmo arriscando-se a ouvir coisas que não serão música para os seus ouvidos) e tome as medidas realmente eficazes para que o navio prossiga a sua marcha, sem mais percalços. Que isso tem custos financeiros ninguém duvida, mas nenhum país se constrói de forma sólida, sem investimento na educação.