Quando (parece que) não sabemos ao que viemos…

Só o desconhecimento (quase) total do ECD pode justificar tanto comentário sobre o número de horas de componente letiva que uns e outros têm, ao longo da sua carreira.
Ao optarem pelo GR 100 ou pelo GR 110, os candidatos desconheciam que a componente letiva semanal é de 25 horas e que só ao atingir 25 e 33 anos de serviço letivo efetivo em regime de monodocência podem ainda requerer a concessão de dispensa total da componente letiva, pelo período de um ano escolar (n.º 3 do artigo 79.º do ECD)? Quando reclamam das regras serem diferentes para os docentes dos outros níveis de ensino, por que razão não escolheram um desses níveis?
Quando alguns, de outros grupos de recrutamento, reclamam que aqueles que mais reduções têm são os que mais ganham, por acaso sabem se estes caíram de paraquedas nos escalões mais altos ou se ganharam, por exemplo, numa "raspadinha", a redução ao abrigo do artigo 79.º? Ainda não vi nenhum destes reclamantes prescindir quer da redução da componente letiva quer do posicionamento em escalão mais alto, quando a eles legalmente tem direito…
Ninguém duvida que muito há a fazer para melhorar e valorizar a profissão docente, mas vamos deixar de fazer de conta que não conhecíamos as regras (alguns desconheciam mesmo…) e que não sabíamos ao que vínhamos. Aos mais novos, podem parecer injustos alguns "privilégios" que os mais velhos de idade e mais velhos na profissão adquiriram, mas veremos se mantêm o seu pensamento quando tiverem a idade que os mais velhos têm. Ah e tal, mas eu já tenho cinquenta e tal anos e tenho mais de vinte anos de serviço e ainda sou contratado e ainda não tenho direito a reduções nem aos escalões de topo… Pois, mas esquece-se de dizer que essa situação se deve, muitas vezes, a opções que fez, em termos de concursos, preferindo colocações nem sempre certas, mas próximas de casa, enquanto outros andaram de casa às costas durante anos, conseguindo, graças a isso, a vinculação e a aproximação progressiva ao local de residência.
Quem é de fora da profissão, a ideia com que vai ficar, ao passar pelos grupos de professores nas redes sociais, é que os professores passam o tempo a esgadanhar-se porque uns trabalham mais horas que os outros, porque uns ganham mais do que os outros, porque…
Enfim, futuros candidatos, pensem bem antes de entrar nesta profissão e tenham em conta que, em termos de progressão, ela está organizada em 10 escalões (vejam bem as condições necessárias para progredir de um escalão para o outro), e que, relativamente ao horário semanal, têm componente letiva de 25 h e não letiva de 10 h nos GR 100 e 110 (ao atingir 25 e 33 anos de serviço letivo efetivo em regime de monodocência podem ainda requerer a concessão de dispensa total da componente letiva, pelo período de um ano escolar – não significa um ano de férias: é usado para o desempenho de vários cargos e para apoio educativo, entre outras coisas!); nos outros grupos de recrutamento, a carga horária semanal começa com uma componente letiva de 22 h + 13 horas de componente não letiva (a componente letiva é reduzida, até ao limite de oito horas, nos termos do estipulado no n.º 1 do artigo 79.º do ECD, que passam a fazer parte da componente não letiva – não, não é para ficar de papo para o ar, sem fazer nada – na qual podem ser desempenhados cargos que, muitas vezes, ninguém quer, podem ser atribuídas tutorias frequentemente a crianças e jovens altamente problemáticos ou atribuídos apoios educativos que significam acréscimo de níveis de escolaridade àqueles que se tem na componente letiva e, consequentemente, de mais materiais a preparar… - ah, estas horas de redução da componente letiva mais parecem um presente envenenado!).
Pronto, agora que já estão minimamente esclarecidos, ponderem e façam as vossas escolhas. Podem optar por nem entrar na profissão, mas, se se decidirem por ela, não venham depois esgadanhar-se nas redes sociais, só porque uns têm algo que vocês (ainda) não têm e outros não chegarão a ter (fruto de opções que foram fazendo, de uma ADD que continua a ser uma palhaçada, de…), por responsabilidade de decisões políticas e não dos vossos pares.