Quanto pagar para ter professores a vir trabalhar no Sul?

14-09-2024

Só para se ter a perceção do que seria necessário pagar para convencer os professores que sobram no Norte a vir trabalhar no Sul, lançou-se a questão num grupo de professores. Intenção igualmente subjacente à pergunta: tentar perceber se tudo se resume a uma questão de dinheiro.

Além de comentários que referem situações passadas de quem já se sujeitou a trabalhar nessas zonas, em horários incompletos (=pagar para trabalhar…), não respondendo à questão, e daqueles que não iriam por dinheiro nenhum, a maior parte das respostas referem que deveriam pagar subsídios equivalentes aos dos políticos, havendo algumas que referem apenas um salário digno (não sendo quantificado, poderá variar muito de pessoa para pessoa…), outras que apontam valores entre os 700€ (os tais com que o ministro Alexandre pretende seduzir os aposentados…) e os 1000€ , outras ainda respondem que se deslocariam caso lhes fosse dado alojamento, havendo quem seja mais exigente elevando a reivindicação para alojamento, carro e alimentação.

Quando se refere os políticos, há que ter em conta que existem vários cargos com direito a diferentes remunerações, mas assumamos o paralelismo com os políticos presentes na Assembleia da República, vulgo deputados, e vejamos o seu estatuto remuneratório (vide https://www.parlamento.pt/DeputadoGP/Paginas/EstatutoRemuneratorioDeputados.aspx). Se não quisermos ser demasiado exigentes, fixemo-nos apenas no caso do deputado em regime de exclusividade: 4301,84€, remuneração total ilíquida já incluindo as despesas de representação (um docente do 10.º escalão – 1 titular sem dependentes – aufere cerca de 3616,16€ ilíquidos + subsídio de alimentação). Além deste valor, soma-se o direito ao abono de deslocação durante o período de funcionamento da Assembleia da República, que se traduz na ajuda de custo fixada para os membros do Governo, abonada por cada dia de presença em reunião plenária, de comissões ou em outras reuniões convocadas pelo Presidente da Assembleia da República e mais dois dias por semana, se residirem fora dos concelhos de Lisboa, Oeiras, Cascais, Loures, Sintra, Vila Franca de Xira, Almada, Seixal, Barreiro, Amadora e Odivelas (os que residem nestes concelhos só têm direito a um terço dessa ajuda), e a sua atribuição depende de comprovativo de realização. Portanto, tanto quanto podemos verificar, não têm direito a alojamento nem a subsídio para o mesmo. Ah e tal, mas, com o que ganham, têm condições para o pagar, dirão alguns. Certamente que sim, mas atente-se no número de deputados (230), compare-se com o número de professores a deslocar e faça-se as contas: onde se iria buscar o dinheiro para pagar tal quantia a tantos? Não sejamos ingénuos.

Os portugueses, que já pagaram não sei quantos bancos, não sei quantas TAP e outras empresas e que, acirrados por uma matilha de políticos demagogos coadjuvados por uma cambada que se diz jornalista, já acham que os professores são uns privilegiados (com direito a três meses de férias, salários altíssimos e poucas horas de trabalho semanal…), diriam ainda mais cobras e lagartos desta classe profissional.

Talvez quando se ganhar consciência da importância do papel de um bom professor na construção de um país, talvez aí ele seja valorizado e respeitado por toda a sociedade… O problema é saber que alguma vez se alcançará essa consciência e, se nessa altura, não será tarde demais…

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